quinta-feira, outubro 16, 2025

 sou mulher

e esta é para você: mulher também

que não é tipo eu

és quem escolheu ou quem foi escolhida

para viver, para poder viver

as certas coisas cotidianas


a foto, o papel, a recordação e a história


a memória da experiência vivida, vívida e repleta de senãos e reuniões

e cerimônias e clichets


e quiseste refazê-la

sabias que tudo estaria ali novamente ao teu dispor:

de dizer não 

com vistas as filas de alterativas a tua frente


não quero ser tu

de modo geral não quero, acho ou pretendo que não


do meu lado

eu crio universos fantasiosos 

eles são lindos, criativos

mais belos que as tuas realidades, sim eles são.


os meus se formam com sorrisos e euforias

e se desfazem como fumaça em lágrimas


a tristeza faz parte e quando ela vem eu transmuto em versos


de tão soltos, talvez somente eu os compreenda

nascidos sempre da invasão bárbara aos meus castelos de amor 

segunda-feira, outubro 06, 2025



Quero escolher um conjunto de canecas contigo. 

Quero minha poltrona ao lado sempre preenchida. 


Vou sempre precisar comprar dois ingressos. 


Quero estranhar o silêncio, apressar a chegada e adiar a saída. 


Vou te esperar no portão de embarque, mas só precisarei ir até lá poucas vezes. 


Estarás ao meu redor. 


Estarás às sextas-feiras comigo e esses dias serão os mais singelos. 


Quero ouvir suas histórias do passado, vais me ouvir contar a mesma mais de uma vez. 


Terei doses de paciência contigo que eu nem sabia que tinha. 


Vou me surpreender com a tua generosidade. 


Vou conhecer detalhes da sua fisionomia e te reconhecer ao longe. 


Quero querer voltar sempre pra ti, sem medo de te dizer que quero, todos os dias. 


Que haja esperança em mim para desejar tudo isso com o coração aberto e a coragem para te receber. 

domingo, outubro 21, 2018

Aonde exatamente estou?

Perdeu-se de mim, por algum motivo, minha noção de espaço tempo. 

Teria sido desde o nascimento e somente agora me dou conta de tal. 

Tenho me esforçado para compreender, mas só o que faço é me distanciar do self.

A me perder em conceitos e a misturá-los aos sonhos, os que considero apenas desejos que vão passar. 

Mas não passam. Só me perturbam, como um autômato que me alfineta em escalas ainda não previsíveis.

Parece triste e é. 

Atrás da minha fronte há um lembrete, constante, de que algo me falta. 

quinta-feira, janeiro 12, 2017

Como saber a hora de resignar?















Em dias de cantar vitória e sucesso
Por que alguém assumiria que está resignando?

Escrevo sem ideia de resposta

Outro dia, em meio a dificuldades, uma amiga perguntou como eu estava,
eu disse que bem,
ela emenda: - e aí, já resignou?

Eu sem pensar disse que não.
Não sei ao certo o grau de naturalidade da pergunta, 
talvez fosse um grito de lucidez ou de loucura.

Agora, passados meses
me questiono se não é tempo de resignar
De deixar o barco da vida correr, deixar que o mais forte vença a maratona
e que eu me contente em contemplar o trajeto.

Embora a torcida grite enlouquecida que você arrume um último fôlego e que acredite que possa superar as muitas pessoas que se acumulam a sua frente

ser eu capaz de olhar para mim e aproveitar o percurso.

Será isso uma resposta?

Se fosse para escolher
eu provavelmente não suportaria
viajar a vida toda
passar dias a fio vendo filmes
lendo bons livros
ouvindo boa música

O prazer talvez esteja na comparação com o caos, a tristeza e o lamento.

sexta-feira, dezembro 16, 2016

Despedida

Não perturbe minha fé e deixe que eu mesma a perturbe.

Já é inevitável não fazê-lo.

Te ausentes, mas sempre.

Não me visite.

Não me vista, nem me cubra.

Também deixes de me olhar, acima de tudo, nunca me observe.

Não me corrija e não me acompanhe.

Evite meus olhos, esqueça da cor que eles tem.

Não se lembre do desenho das minhas mãos.

Não sintas mais meu cheiro em sua memória.

Permita-me regozijar com a solidão.

E nunca diga que isso não é possível.




comum


O comum contamina tudo o que toca
se ele for bom
são êxtases rotineiros,
se isso fosse possível,
mesmo que rotineiros
nos deixariam contentos e enroscados com as horas dos dias

E então
vai que o comum
aborrece, chateia
aí é problema,
tédio e ócio
stress e fadiga
vontade de separar tudo do comum
que se acometeu até ao meu ar. 

quarta-feira, julho 08, 2015

Maternidade do amor

Ouvi falar de uma cidade
onde toda mãe quando pari
traz embora um bebê qualquer que tenha nascido na mesma época
desenvolveram esse hábito porque todos aprenderam a amar todas as suas crianças da mesma forma
e passaram a não achar diferença por conta do sangue
do olho, cabelo, boca, nariz ou saúde
Me contaram também, que nunca ouviram casos de mulheres com medo da gravidez
Tampouco medo do abandono
Elas sabiam que, de uma forma ou outra, os filhos seriam amados
e que sobre elas não haveria culpa
só bênção e colos cheios de vida.


sexta-feira, maio 29, 2015

Forma

Sou rebelde? Imagino a vida a me falar para aceitar o cotidiano mediano e eu recuso.

Ela me diz para o meu bem, me avisa que conformar-se pode ser confortável, e que, talvez se, eu continuar no emprego do conformismo hoje eu me torne a mulher conformadamente mediana.

Tá, mas é aí que está o problema, não sou mediana em nada, eu oscilo bem para cima e bem para baixo. Me desvio da média e renego paradigmas. Nunca sei se nasci assim ou assim me formei, sem conformar.

Outro dia parei a comparar-me. Tracei paralelos e me choquei com meu tanto incomum. Mas isso não me conforta, não me conforma às figuras exóticas a rua. Nada disso, me visto de cinza e preto, cabelos presos beirando invisível, embora nem sempre o consiga.

Anseio eu perceber o melhor trajeto e a certeza de que para algum lugar estou indo? Viveria para criar um filho, uma família, um emprego, planos de uma mulher de trinta, quais além desses? Viajar o mundo, escrever um livro, construir uma casa, cuidar da natureza, ler centenas de livros ou chegar ao milésimo filme?

Satisfatório? Não sei, mesmo! Me parece, numa dessas, tudo rota de fuja a fim de me desviar dos entraves e limitantes de minhas escolhas inconformadas.

Não queria um texto que falasse da independência da mulher, que diferente de alguns anos passados ... e toda a história que já conhecemos e vibramos. Lemos, nos identificamos e voltamos exatamente para o mesmo lugar inconformado.

Não culpo os dias, a sociedade, a família, a religião. Não dou mais conta para justificar esse amontoado de coisas, eu assumo o que eu fiz para esticar a corda da minha vida e ver qual é.

Taí, acho que em meio a essas linhas encontrei uma qualidade e percebo de leve. Gosto de arriscar. Gosto do gosto da inconformidade. Da instabilidade que me toma, me faz alegre, triste, triste, alegre, alegre, eis meu vício.

Querer

O que faz o querer se formar querer.
E o meu dia que sem querer muda
E o meu ser que subitamente se converte em pertencer
A outro que nem sabe que me dei.

E aquele dia de não querer ser mais seu,
o dia que se quis ser do outro
Se faz de cores que não existem

No outro dia
Quando se dizem verdades,
daquelas cheias de tons pálidos
Eu volto a ser minha.