domingo, outubro 21, 2018

Aonde exatamente estou?

Perdeu-se de mim, por algum motivo, minha noção de espaço tempo. 

Teria sido desde o nascimento e somente agora me dou conta de tal. 

Tenho me esforçado para compreender, mas só o que faço é me distanciar do self.

A me perder em conceitos e a misturá-los aos sonhos, os que considero apenas desejos que vão passar. 

Mas não passam. Só me perturbam, como um autômato que me alfineta em escalas ainda não previsíveis.

Parece triste e é. 

Atrás da minha fronte há um lembrete, constante, de que algo me falta. 

quinta-feira, janeiro 12, 2017

Como saber a hora de resignar?















Em dias de cantar vitória e sucesso
Por que alguém assumiria que está resignando?

Escrevo sem ideia de resposta

Outro dia, em meio a dificuldades, uma amiga perguntou como eu estava,
eu disse que bem,
ela emenda: - e aí, já resignou?

Eu sem pensar disse que não.
Não sei ao certo o grau de naturalidade da pergunta, 
talvez fosse um grito de lucidez ou de loucura.

Agora, passados meses
me questiono se não é tempo de resignar
De deixar o barco da vida correr, deixar que o mais forte vença a maratona
e que eu me contente em contemplar o trajeto.

Embora a torcida grite enlouquecida que você arrume um último fôlego e que acredite que possa superar as muitas pessoas que se acumulam a sua frente

ser eu capaz de olhar para mim e aproveitar o percurso.

Será isso uma resposta?

Se fosse para escolher
eu provavelmente não suportaria
viajar a vida toda
passar dias a fio vendo filmes
lendo bons livros
ouvindo boa música

O prazer talvez esteja na comparação com o caos, a tristeza e o lamento.

sexta-feira, dezembro 16, 2016

Despedida

Não perturbe minha fé e deixe que eu mesma a perturbe.

Já é inevitável não fazê-lo.

Te ausentes, mas sempre.

Não me visite.

Não me vista, nem me cubra.

Também deixes de me olhar, acima de tudo, nunca me observe.

Não me corrija e não me acompanhe.

Evite meus olhos, esqueça da cor que eles tem.

Não se lembre do desenho das minhas mãos.

Não sintas mais meu cheiro em sua memória.

Permita-me regozijar com a solidão.

E nunca diga que isso não é possível.




comum


O comum contamina tudo o que toca
se ele for bom
são êxtases rotineiros,
se isso fosse possível,
mesmo que rotineiros
nos deixariam contentos e enroscados com as horas dos dias

E então
vai que o comum
aborrece, chateia
aí é problema,
tédio e ócio
stress e fadiga
vontade de separar tudo do comum
que se acometeu até ao meu ar. 

quarta-feira, julho 08, 2015

Maternidade do amor

Ouvi falar de uma cidade
onde toda mãe quando pari
traz embora um bebê qualquer que tenha nascido na mesma época
desenvolveram esse hábito porque todos aprenderam a amar todas as suas crianças da mesma forma
e passaram a não achar diferença por conta do sangue
do olho, cabelo, boca, nariz ou saúde
Me contaram também, que nunca ouviram casos de mulheres com medo da gravidez
Tampouco medo do abandono
Elas sabiam que, de uma forma ou outra, os filhos seriam amados
e que sobre elas não haveria culpa
só bênção e colos cheios de vida.


sexta-feira, maio 29, 2015

Forma

Sou rebelde? Imagino a vida a me falar para aceitar o cotidiano mediano e eu recuso.

Ela me diz para o meu bem, me avisa que conformar-se pode ser confortável, e que, talvez se, eu continuar no emprego do conformismo hoje eu me torne a mulher conformadamente mediana.

Tá, mas é aí que está o problema, não sou mediana em nada, eu oscilo bem para cima e bem para baixo. Me desvio da média e renego paradigmas. Nunca sei se nasci assim ou assim me formei, sem conformar.

Outro dia parei a comparar-me. Tracei paralelos e me choquei com meu tanto incomum. Mas isso não me conforta, não me conforma às figuras exóticas a rua. Nada disso, me visto de cinza e preto, cabelos presos beirando invisível, embora nem sempre o consiga.

Anseio eu perceber o melhor trajeto e a certeza de que para algum lugar estou indo? Viveria para criar um filho, uma família, um emprego, planos de uma mulher de trinta, quais além desses? Viajar o mundo, escrever um livro, construir uma casa, cuidar da natureza, ler centenas de livros ou chegar ao milésimo filme?

Satisfatório? Não sei, mesmo! Me parece, numa dessas, tudo rota de fuja a fim de me desviar dos entraves e limitantes de minhas escolhas inconformadas.

Não queria um texto que falasse da independência da mulher, que diferente de alguns anos passados ... e toda a história que já conhecemos e vibramos. Lemos, nos identificamos e voltamos exatamente para o mesmo lugar inconformado.

Não culpo os dias, a sociedade, a família, a religião. Não dou mais conta para justificar esse amontoado de coisas, eu assumo o que eu fiz para esticar a corda da minha vida e ver qual é.

Taí, acho que em meio a essas linhas encontrei uma qualidade e percebo de leve. Gosto de arriscar. Gosto do gosto da inconformidade. Da instabilidade que me toma, me faz alegre, triste, triste, alegre, alegre, eis meu vício.

Querer

O que faz o querer se formar querer.
E o meu dia que sem querer muda
E o meu ser que subitamente se converte em pertencer
A outro que nem sabe que me dei.

E aquele dia de não querer ser mais seu,
o dia que se quis ser do outro
Se faz de cores que não existem

No outro dia
Quando se dizem verdades,
daquelas cheias de tons pálidos
Eu volto a ser minha.

quinta-feira, maio 28, 2015

Preferido

Estamos na sua última semana, meu preferido.

Sempre fico feliz com sua chegada, nem sei ao certo dizer  porque. És daqueles que chegam e cativam sem motivo, talvez por ser maio.

Já se despedes de mim, tão cheio de lágrimas de chuva e eu queria mesmo perguntar-lhe o porquê disso tudo.

Bem que eu acho que sei, que entendo, está assim mesmo, tudo tão nublado, o céu tão tão carregado  que não tem como não chorar, não tem com não pesar por tempos assim hostis.

Vamos lá Sr. Maio, as semanas passam aos pulos que logo te verei de novo. Em melhores situações, espero, nós dois.

Enquanto isso, vamos nos ensinar a não ter pressa, não ter razão, deixar chover, deixar chorar.

Sentirei saudades, mesmo com todo esse drama com o qual vieste pintar meus dias e encharcar meu coração com água fria.

Vem aqui me dizer até logo, eu já te perdoei por teres vindo assim desta vez, também tenho minhas fases.

sábado, fevereiro 28, 2015

Fábula do Amor!

Em uma manhã de maio, quando o sol escolheu sua medida certa, eu abri as cortinas e janelas da minha casa. Olhei para o portão e o vi pela primeira vez. Não o reconheci, tive que esperar que ele se apresentasse.

Esse foi o dia que o Amor me visitou.

Disse que queria me conhecer pessoalmente, porque eu andava falando muito dele pela vizinhança.

Eu, da janela da sala, passei a trocar palavras soltas com ele. Em uma pausa da conversa, imprevisivelmente, disse que gostaria de morar comigo.

Por sua fama, acabei de pronto por aceitá-lo.

Convidei-o para entrar. Senti como se tivesse chegado o tanto que me faltava na vida.

Ele sentou-se no sofá e, olhando em meus olhos, disse que nunca fica em par com alguém. Disse ainda que é preciso acrescentar mais um para que ele fique.

Olhei confusa, e disse que poderia rapidamente pensar em alguém para resolver o problema.

Ainda, olhando em meus olhos, o Amor salientou que existe um requisito para a entrada desse mais um.

Fiquei já listando em minha mente quais características essa pessoa deveria ter, mas não me atrevi a adiantar nenhuma.

Esperei que ele dissesse que, na verdade, não podemos escolher a pessoa, é necessário que ela apenas chegue e queira viver conosco. Eu, esse um e o Amor.

Confesso que não entendi. Poderíamos gastar o resto da manhã pensando em pessoas para dividir aquela casa, com quem poderíamos viver momentos ótimos.

Como me constrangi, pelo fato de estar falando do Amor aos quatro cantos desde outrora, acabei apenas aceitando suas exigências, e deixei que esse alguém chegasse.

Dias depois, como se eu nem percebesse, ele chegou de malas feitas. Eu já o ouvia ao longe conversando na calçada sobre o Amor, da mesma forma que tantas vezes eu tinha feito.

Ele chegou quando eu nem procurei, obedeci ao Amor e não o escolhi. Apenas chegou, sem bater, foi entrando como se alguém já tivesse dito que aquela casa seria sua. Como se sempre tivesse morado ali. E nós dois dissemos: sejas bem-vindo!

Passado um tempo, resolvi ter uma conversa com o um. Afinal, eram tantas coisas que foram descobertas, tantas rotinas monótonas, tantos assuntos repetidos, projetos não cumpridos. O Amor  tentando nos fazer entender um ao outro, mas algumas vezes eu nem mais o convidava para as conversas.

Disse que, do mesmo jeito que tinha vindo, que fosse. Insisti que tinha que ser diferente, que queria escolher outra pessoa, afinal poderíamos ficar melhor sem ele.

Chorou e foi embora.

No dia seguinte vi uma roupa usada, um sapato no canto da sala, um cheiro familiar no ar. Era a lembrança do Amor, mas o Amor mesmo tinha ido embora.

Desde então anseio que ele volte, costumo contar para todos que já convivi com ele, que já fomos próximos. Hoje, só consigo viver fingindo que ele ainda está comigo, dividindo os dias com um outro que escolhi.

Edvard Munch - Summer night, Inger on the beach (1889)